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Balas de Futebol
Enviado por Marcos Falcon em 3/23/2011 1:51:32 PM
Balas de Futebol.
Dona Nair minha mãe na cama com a perna quebrada por um cachorro Boxer Alemão que ao atacar o gato de casa teve sua corrente presa na perna dela.
Mesmo na cama continuava dando suas ordens. “Marquinho pegue o dinheiro na mesa da cômoda e vá ao tio Rondon cortar o cabelo.
Meu cabelo era cortado escovinha no tio Rondon, o único barbeiro de Itaquera em 1957.
Como todo garoto da minha geração, cortar o cabelo nunca foi uma das atividades mais prazerosas , pois ficar sentado por 30 minutos numa taboa colocada sobre os braços da cadeira de barbeiro não era algo agradável.
Ordem é ordem e não podia questionar. Peguei o dinheiro e fui ao barbeiro, porém passando antes pela casa dos meus primos, Edem e Élson que eram filhos da Tia Alzira, irmã mais velha de meu pai.
Estes dois eram considerados os piores capetas da Vila Campanela, onde moravam ao lado da linha do trem da Central do Brasil.
Minha tia não estava em casa naquela oportunidade e ao entrar encontrei os dois colando figurinhas no álbum. Eram as figurinhas Balas de Futebol.
Fiquei ali sentado ao lado dos dois até que eles acabaram de colar as figurinhas e ao mesmo tempo fui juntando as repetidas para serem trocadas com outros garotos.
Após a colagem das figurinhas de jogadores, o Neguinho, apelido do Élson, mostrou a página da Ferroviária de Araraquara, onde faltava apenas uma foto para completar o time. A figurinha assinada do Bazzani.
O Neguinho mostrou na capa do álbum a foto da bicicleta que ganhariam se completa-se aquela página. Pena que não tinham dinheiro para comprar mais balas de figurinhas na loja do Sr Maeda.
Foi ai que deram conta de mim e me convidaram para ir nadar na chácara da Dona Marcília. Falei que não poderia aceitar o convite, pois tinha que ir cortar o cabelo no Tio Rondon. Quieto até aquele momento a cabeça ligeira do Edem funcionou e de imediato ele tinha descoberto como arrumaria dinheiro para comprar mais balas onde certamente estaria a figurinha assinada do Bazzani.
Edinho como era chamado colocou seu plano na mesa. Marcos nós cortamos seu cabelo e você nos dá o dinheiro para comprar balas e ai nós deixamos você andar de bicicleta todos os dias.
A oferta foi irrecusável e em dois minutos lá estavam eles, o Neguinho com uma tesoura e o Edinho com o aparelho de barbear do Tio Geraldo.
Fizeram uma risca no meio da cabeça e combinaram que cada um cortaria um dos lados.
Neguinho escolheu o corte escovinha e o Edem o americano. Corta e apara, raspa e ensaboa e após 10 minutos estava pronto o corte no maior e mais perfeito estilo caminho de ratos que alguém poça imaginar.
Percebendo o estrago que fizeram, os dois enrolaram a minha camisa sobre a cabeça, para que ninguém visse a obra de arte e pediram para eu ir direto para casa sem passar na Vovó Amália que morava ao lado.
Não deu outra. Ao chegar em casa minha mãe pediu pra ver como tinha ficado o corte. Nunca esquecerei seu berro de espanto ao ver a preciosidade feita por meus primos. A onde você cortou este cabelo, não foi no tio Rondon, bradou ela. Tive que contar sobre o grande negócio que havíamos feito e sobre a bicicleta nova na qual eu teria parte.
Chame a Tia Terezinha, irmã de mais velha de minha mãe que morava ao lado de casa ali na Vila Corberi mais conhecida como Morro do Querosene ou Morro do Falcão.
Quando a tia chegou em casa a coronel dona Nair já foi dando a ordem. Terezinha vá até a casa da Alzira e fale com ela sobre o que aqueles FDPs dos filhos dela aprontaram e peça o dinheiro de volta.
Tia Terezinha me arrastou pelo braço, pois seria necessário levar a prova do crime, mesmo sendo eu cúmplice da obra. Eu sabia que a tia Alzira não estaria em casa, e naquele momento muito menos meus dois parceiros que já haviam se escondido subindo no topo do Pinheiro existente na caso do seu Pedro Russo.
Nem tia Alzira, nem os moleques e muito menos o dinheiro. Esta foi a notícia que tia Terezinha trouxe de retorno para minha mãe.
No final de semana meu pai foi comigo até a casa de sua irmã e a arte foi punida com os três tendo que ir ao Tio Rondon e cortar o cabelo careta total com direito a raspar com a navalha.
Escovinha até que aceitávamos, m as careca na época era ofensivo.
Quanto ao dinheiro, a tia pagou meu corte careca, pois os dois já haviam gasto o meu na compara das novas balas.
Não saiu a figurinha do Bazzani, apenas cromos repetidos. A única coisa boa que ficou deste episódio foram as lembranças que agora posso repartir com vocês.
Marcos Falcon.
Contador de Estórias
Email do autor:marcosfalcon@uol.com.br
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